Acabei de saborear um trago de água tónica.
Apercebi-me
de que era líquida, espumante, borbulhante, ácida, amarga, não como um limão
porque não é leitosa, mas mais transparente, mais azeda e mais doce, muito expansiva, enquanto se mistura com a saliva e dança entre o palato e a
língua.
Ao
dividir-se em infinitas partículas dentro da minha boca, deixa de ser líquida.
Por
fora, também é um pouco assim: se a despejo num copo, inicia um marulhar veloz
e lento: nem uma gota de água cai no copo, é apenas espuma que se alastra e transborda.
A sua
forma é como a daqueles líquenes que se propagam em sopros pelos corpos impolutos.
A cor
é amarela, verde e castanha, com uma ponta de negro.
O seu
grau de transparência sofre várias metamorfoses: começando por ser total dentro
da garrafa fechada, torna-se opaca ao cair no copo, depois translúcida, e
novamente transparente quando se acalma.
Se
entra na minha boca, fica granulosa e dispersa, flutua e penetra em todos os
vasos e mucosas, infiltra-se no istmo da garganta e daí escorrega até ao
estômago, mas, nesse momento, já é um gás leve e espesso.
A
água tónica é um bálsamo para a minha boca.
Quando
penso nela, desejo-a... quero bebê-la! e sentir o Prazer Supremo ¾ entre o momento em que se expande e aquele em que cai, deixando o
seu sabor indescritível incrustado no
meu espírito.
1991
Olá, Maria Papoila
ResponderEliminarNão percebi o teu novo blog, «esperimental»
Bem, li com atenção o teu post e como depois de resolver alguuns problemas poderei «gozar» da liberdade de «reforma», pensei que talvez pudesse ser interessante pegar nas «Campanhas de alfabetização» e na documentação que referes. Poderia ser que dali conseguíssemos fazer nascer uma obra ou deixar que os testemunhos se não percam de todo. Que dizes?
Bjo
VM