Mão-árvore,
agitas-te quanto podes:
revolves... revolves... revolves...
a terra em volta das raízes.
Mão aberta,
tronco vermelho de desejo,
dedos longos... longos... longos...
ramos espreguiçados mais... e mais...
aspirando o além-espaço.
Mas mão-árvore!...
Raízes-cérebro!!
A árvore seca se as raízes cortarem,
a mão murcha se o cérebro morrer,
mas mão-árvore não quer ficar presa.
Mão-árvore
hoje olhou para baixo
e viu-se presa à terra
_ amarrada até pelo ar _
e a amargura secou os seus lábios,
os seus olhos entristeceram,
o corpo inteiro chorou.
Isto passou-se num dia de trovoada
e só a sua alma sentiu a condenação
a prisão perpétua.
Mas não se afogou a mão-árvore,
continua procurando... procurando...
procurando... talvez destruir-se,
pois o seu maior desejo é voar
sem algemas nas raízes.
Explicação da mão-árvore
Nascem em terra vermelha e de nove em nove
anos choram debaixo do Sol abrasador de Agosto. Porque os homens, sem dó nem
piedade, arrancam-lhes a pele com um machado. Árvores que são corpos em carne
viva e ao mesmo tempo mãos presas à terra (cinco ramos como cinco dedos). É impossível
um alentejano não as adorar.
E eu sou um sobreiro preso à terra que procura libertar-se das algemas raízes, que quer talvez destruir-se, pois o seu maior desejo é voar, conhecer e amar tudo.
Presa à terra, e também com claustrofobia
da atmosfera, nem o desejo que retorce os ramos e os troncos vermelhos impõe
limites à conveniência da razão. A mão-árvore não se afoga em lágrimas, apesar
da amargura visível nos lábios, da infinita tristeza nos olhos, de toda a
agitação e procura do êxtase no além-espaço. A terra impõe-me o florescimento
da rude inteligência. Por isso continuo a equilibrar-me, qual funâmbulo, num arame incerto. Protegida, contudo, pelas tais raízes que me limitam os voos
(mas não os sonhos). Com os ramos espreguiçando-se, sempre mais e mais, a
consciência e a vontade de chegar aonde nada seja apenas nada e tudo exista
como realidade, sem os abismos desta vida que nos nossos dias replica o
prolongamento das regras convenientes, será que um dia acharei o meu lugar mágico?
Maio
de 1981
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