Por vezes
não gosto de ser eu,
uma bússola sem eixo nem norte.
Tola e feliz
jamais serei francamente,
a maior alegria é efémero poente:
aparece brilhante,
mas logo escurece
e rebenta o dique.
Não quero marés de lágrimas e rio!
Rio na esperança de um dia rir seriamente,
rio sobrevoando as mais tristes pontes,
rio chorando os engenhos microcêntricos,
rio tudo antes de me esconder na torrente.
E choro lágrimas secas,
enquanto os amáveis surdos exultam
na mísera condição de loucos ridentes
de alegria amorosa e esquiva
aos pântanos tresloucados de amor.
Rio enlodada pra me esquecer dos lodos,
rio no centro do tempo que se esgota
_grito no estalo da inundação seca!
Encoberta por nuvens desfeitas em gargalhadas
líquidas,
rio na esperança de torcer as águas
nos espelhos dos olhos das gentes
de risos maquinados na sombra da tristeza.
Não quero chorar e rio
à deriva num mar de alegrias
impregnadas de fel e grãos de esperança.
Pois, sem querer, ainda me encontro
na agonia das aves...
mas com elas sigo até Deus.
14
Fev. 97