01 setembro 2009

Rap


Todos os homens

São míseros farrapos

Diabos prostrados

Aos pés do diabo

Recolho a manha

Teço a escolha

Envolta em lenha

Queimo a vida

Na vinha serrenha

Colho a erva

E fumo um charro

Da pleura escolho

Um bronquíolo de barro

Na lama do charco

Embebo o cenho

Na selha da história

Vomito, babo e ranho

Na merda do casco

Mergulho e escarro

Marinheiros atasco

No tacho de cobre

Descubro o escroque

Maldigo a lebre

E abraço o verme

Na tristeza morta

Subo a escarpa

Acima, acima

Espeto a pique

Comprimo a estrada

Arrebento o dique

Jorra a água

No jogo da vida

Em atalhos de picos

Ouriços rastejam

No lume de tojos

Ateio a raiva

Espumo fradiques

Que metem nojo

Cuspo e disparo

Contra a rima

À espera da prosa

Do padre de cima

Ó deus da graça

Culpai as paixões

Bendizei as desgraças

Contra os pregões

Da sina o sino

Badala no jornal

Mariposando pinos

E trouxas d’avental

Na cozinha do cardeal

Como Abéis e Cains

Caís às resmas

Nas grosas das velas

Barcas vermelhas

Rosas belas


8 Jan. 97

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