08 agosto 2012

[Já que não tenho perfume, amor...]



Já que não tenho perfume, amor...
 
Quero ir por aí!
 
Abraçar os mal-amados frutos
 
Sobreviventes das rendições:
 
Quero infectar-me nas despretensões miseráveis!
 
Amanhã quero estar na lâmina dos golpes mafiosos,
 
Naquele mesmo templo onde hoje bebi o engano
 
Amanhã devorarei a essência da violência
 
_Exterminá-la-ei!
 
Porque não fujo daqui onde o medo acalanta o ódio,
 
Porque sei que aqui todos serão desmascarados,
 
Porque em todos os lugares a vida se disfarça,
 
Aqui quero sepultar a palidez dos hábitos
 
Que contaminam as cores da Terra
 
_Embora mais me apeteça recolher-me
 
Numa casa de bichos
 
Na terra das flores.


1 Fev. 97

07 agosto 2012

Colagem sobre a morte



O cão ladra na esquadra,
O polícia no canil,
O pobre diabo no desgosto
Finge ser rico num pau de sebo.

Se enganos não fossem tristezas,
Eu até acreditaria,
Mas quanta pobreza deu Deus
Ao reino da vã alegria!

Ó filhos da morte,
Merdosos de tudo,
Aonde vos leva essa estrada?
Se um dia sereis da terra unguento,
Que fel vos alimenta o medo?

As glórias que esperais colher
Só florescem em campos de enganos:
Onde as remissões benditas
Derrubam a vil caminhada
Ninguém virá admirar acrobatas.

Apenas somos grãos de poeira
No tempo que nos esquecerá,
Tudo o que comermos nesta terra
Será merda no dia de amanhã!

Quereis vencê-la, porém
Nenhum ludíbrio vereis perdoado:
Sereis cagados e esquecidos
_Embora o esforço da digestão
E de mil desculpas sem sentido.

«Eu devo o meu corpo à terra,
A terra mo está devendo:
A terra paga-me em vida,
Eu pago à terra em morrendo.»

Dois milénios decorridos,
Quantos crucificados e endeusados
Abriram caminhos de árduos trilhos?
Mas quem quer ver nos seus olhos?!...

Se a vossa vida é vazia
E o medo vos despedaça,
Sementes redentoras achareis
No interior da esfera esburacada,
Perdidas na dormência da alma.


31 Jan. 97

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