O cão ladra na esquadra,
O polícia no canil,
O pobre diabo no desgosto
Finge ser rico num pau de sebo.
Se enganos não fossem tristezas,
Eu até acreditaria,
Mas quanta pobreza deu Deus
Ao reino da vã alegria!
Ó filhos da morte,
Merdosos de tudo,
Aonde vos leva essa estrada?
Se um dia sereis da terra unguento,
Que fel vos alimenta o medo?
As glórias que esperais colher
Só florescem em campos de enganos:
Onde as remissões benditas
Derrubam a vil caminhada
Ninguém virá admirar acrobatas.
Apenas somos grãos de poeira
No tempo que nos esquecerá,
Tudo o que comermos nesta terra
Será merda no dia de amanhã!
Quereis vencê-la, porém
Nenhum ludíbrio vereis perdoado:
Sereis cagados e esquecidos
_Embora o esforço da digestão
E de mil desculpas sem sentido.
«Eu devo o meu corpo à terra,
A terra mo está devendo:
A terra paga-me em vida,
Eu pago à terra em morrendo.»
Dois milénios decorridos,
Quantos crucificados e endeusados
Abriram caminhos de árduos trilhos?
Mas quem quer ver nos seus olhos?!...
Se a vossa vida é vazia
E o medo vos despedaça,
Sementes redentoras achareis
No interior da esfera esburacada,
Perdidas na dormência da alma.
31
Jan. 97
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