11 setembro 2008

Pescaria

Costuma sentar-se no topo do monte
com uma cana de pesca, sorridente,
atirando a linha ao mar de peixes
embevecidos na isca do anzol suspensa.

Um semi-ingénuo abre a bocarra
pronto a rasgar os beijos na troca
do seu corpo esfarrapado por uma bela
mercadoria de engodo exposta na barraca.

Naquele mar os peixes apodrecem,
saltitando entre estilhaços e garrafas,
à espera do álcool que apague os reflexos
de jovens ansiosos e ricos desfigurados.

Hilariados os rostos emergem do lixo
sem ver o esqueleto que ficou no fundo;
e os mergulhadores enfatuados aplaudem
o banquete imundo de fétidos petiscos.

Lá bem no alto, o astro-rei festeja
a rica sucata que a multidão lhe trouxe
e anima as raparigas que se contorcem
no interior gelado duma lata ferrugenta.

Por fim o criado recolhe os pescados,
os ventres esfaqueando vigorosamente,
e de cada escama arranca um príncipe
que a áspera faca em sapo transforma.


Dez. 96

2 comentários:

  1. Parabéns pela poesia.
    Gostei de vir aqui.
    Feliz dia!

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  2. Olá Maria;
    Através do "Diário de um paciente" a curiosidade fez-me vir ao teu blog e... que maravilha de poemas.
    Afinal, Maria, quem és tu para escrever assim tão bem!!!.
    Que pena tantas maravilhas destas não se reunirem num livro (ou será que já estão?) para que todos os amantes da poesia o possam desfrutar.
    Confesso que estou encantado com o teu blog e não te admires se me vires por aqui mais vezes.
    Tomara que outros venham porque não darão o seu tempo por perdido.
    Parabéns e continua a nos brindar com a tua imensa cultura poética.
    bjs.

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