Vem... Ar!...
congela-me o frio calor,
desembrulha o inverno,
torce as pernas mornas
deste bailado diabólico!...
Vem... Ar.... Vem!...
arrefece-me a morte,
rouba-me o vinho e a sede,
arranca os gumes tenebrosos
deste inferno surdo!...
Vem... Ar.... Vem!...
acorda os lírios e as cobras,
enche-me a cama de folhas,
traz a mortalha e as chamas
da tua cabeça alucinada!...
Vem... Ar... Vem!...
sobe à Terra, sente o vento,
espero a tua alma fria,
traz o veneno da Lua
e acalma esta agonia!...
Vem cá, Ar maldito!
não vês o Sol a brilhar
além nos montes distantes,
a derribar sobre as nuvens?!
Vem... meu Amor!...
cá estarei ao entardecer,
álgida e nua, irrompendo
da ternura dos ódios.
Vem, deus dos desertos!
corrói-me o corpo vicioso,
dulcifica a tortura tépida
das minhas impetuosas tremuras!...
Vem... Ar... Odeia-me!
que não quero amor roubado
aos diamantes rudes e puros.
Odeio-te, Ar... Vem!...
hei-de amar-te até me enterrar
no esterco desta terra luminosa.
Amar-te-ei por detrás da luz,
amar-te-ei além do amanhecer,
no ovo podre, no desgosto,
na fetidez que por ti respiro!
Amo-te, Ar... Vem!...
aqui renasce,
em mim
injuria todos os asseados
que plas ruas afiam gládios!
Ergue-te e resplandece, Ar!...
irmão eterno dos simples,
que a vida borbota
em cada fruto suspenso
nesta esperança
até ser Homem.
14 Dez. 96
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