06 setembro 2008

Vida desesperada de fúria vã

Ó vida que nada vales
além da insignificância
do existir efémero de cada ser!

vida insípida
de organismos estéreis
transitoriamente organizados

vida ferida
de seres esventrados
pelas armas da tristeza

herança eterna
nos anais do infinito
passar sem ser

dolorosa marca
da ilusão de querer ficar
para sempre registado no tempo

triste figura
incompreendida pelas ervas
da mais breve primavera

expressão amargurada
que provoca dor
na fragilidade

angústia dos infelizes
animais brutais

surdez maligna
dos vírus eternos e transitórios

pobreza de olhos
que cegamente espreitam
e obedecem ao olho grande

Vida de merda,
perdida na máscara
enfiada nas vísceras do cérebro!

atrofia de células
que nunca chegam a desabrochar
independentes

mágoas sublimadas no nada,
oferta única das exigências absolutas
das vidas contínuas

Se a morte do nada
não chega sequer a nascer,
para que se reabre o ciclo da vida?!...

E no entanto... sempre
renascem infinitas margens
entre a morte e a vida.


Outubro de 96

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