Adoro e abomino este livro escuro
onde o bem e o mal arrogam a verdade,
misturados amiúde sem sentido:
ao mal atribuindo boas qualidades
e no bem ignorando as purezas do mal.
Sempre másculo e em nome de Deus
intolerante para com os pecadores,
horrendo castrador das mulheres,
opróbrio dos artistas,
bajulador dos passivos,
conservador e revolucionário
na firmeza dos preceitos.
Não houvera quem nele lera outros nexos
não escondidos, venceria o dogma terrífico
contra os filhos do Deus que nada escreveu,
apesar da insistência, dita humana, no sacrifício
de tantos dons divinamente recebidos.
De milénio em milénio, pouco mudou
na natureza humana. Sentimentos
dissimulados, grandes delírios no verbo
e no modo, ocultaram da vida a forma
manifesta no intervalo das estrelas.
Mas tudo persiste, imutável
desde o domínio das vozes divinas
engendradas para calar o Homem.
Livro bem intencionado, sagrado
de vias infernais na vida e na morte,
Bíblia bebida como escárnio da Humanidade,
devolve e espalha essas folhas!
à dor dos sábios arrancadas.
23 Dez. 96
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Olá Maria;
ResponderEliminarConfesso que li e reli o poema para estar certo da interpretação.
É que a Maria insere tamanha intensidade na sua maneira de escrever, que nos pega desprevenidos na maneira de os interpretar...
Continu-o encantado em ler a suas poesias e se algum dia se dissidir em os publicar, estarei na fila da frente para comprar o livro... e com dedicatória.
bjs
A vida é assim: gostar e abominar...
ResponderEliminarboa semana
Olá Maria;
ResponderEliminarAgora que me habituei a esta visita do teu blog onde postas maravilhosos poemas, espero continuar a apreciá-los e aproveitar o brinde que nos fazes de dividires connosco a poesia que te vai na alma.
bjs
Este impaciente vento
ResponderEliminarSolta a espuma de um escuro mar
Mistura o pranto e o riso
Aprisionados em sal solto no ar
Indomável é a tua vontade
Alimentas o fogo da solidão
Percorres caminhos incertos
Dás inquietação a uma oração
Boa semana
Mágico beijo